quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

PAINÉIS COLABORATIVOS INSPIRADOS EM MATISSE

A visibilidade do trabalho colaborativo em Arte-Educação.

Se ao projetarmos nossa imagem a partir da existência de “um outro” que me retorna uma imagem aceitável, compreensível e dotada de pertencimento, evidenciamos que “mesmo quando sonho com meus encantos externos, não tenho necessidade de uma representação de mim mesmo, registro apenas o resultado da impressão sobre os outros” (BAKHTIN, 1997, p.48) e, nesse jogo de apresentação/representação, reconheço-me no outro.

Em Aisthesis: estética, educação e comunicação, Maria Beatriz de Medeiros, em capítulo denominado O outro, o nós e o grupo, destila algumas pérolas acerca do valor social da obra de arte. Esse valor, mesmo na produção individual, só alcança projeção a partir do reconhecimento do outro: seja na fruição, seja na categorização, seja na co-projeção. Para a autora:

Em uma obra de arte realizada em grupo a confrontação e o improviso escapam a todo controle preliminar. O outro é interioridade, sempre, de novo, desconhecida e aberta. A intensidade do vivido em um trabalho em grupo, para o espectador e para o artista, é diretamente proporcional à profundidade da troca estabelecida (leia-se troca como transferência, permuta, alteração modificação ou, ainda, abandono). (MEDEIROS, 2005, p.121)

Embora o outro esteja presente em nós mesmos, o tempo todo, às vezes — muitas vezes — o outro passa a ser compreendido simplesmente como o outro, distante do eu. Somos mesmos egoístas. Construímos tipos e estereótipos a partir de nossa projeção no outros e raramente assumimos isso.

No início do ano letivo são comuns, nas empreitadas dialógicas iniciais, os famosos — Ela se acha! — Não fui com a cara dela! — Aquele moleque é todo metido a playboyzinho! — Aquele “bicho se acha o maior CDF!

Mais à frente, com a descoberta do outro em nós, as relações de amizades se (re)configuram e ganham a credibilidade de nos vermos no outro e no outro sentirmo-nos seguros, fortes, refletidos. É a metafórica transposição bakhtiniana. No decorrer desse processo, as predileções potencializam o poder do grupo.

Para as formações dos grupos são atribuídos valores, assertivas identitárias, afetividade, intimidade... Sentir-se no outro é uma evidência, uma necessidade.

Para Carl Jung, os entrelaçamentos com os outros permite-nos estabelecimentos de relações de uniformidade social pois, “quanto maior for o número de indivíduos semelhantes, ou formados de modos semelhante, tanto maior será a força coercitiva do exemplo que atua inconscientemente sobre outros indivíduos” (JUNG, 2002, p.157)

Em nossa pesquisa deparamo-nos com muitas possibilidades de evidenciar o significado do outro. O trabalho solitário traz uma visão de mundo que traduz o medo da ousadia, o perigo do errar. No trabalho colaborativo, olhares se encontram e a abertura para a criação, experimentação encontra terreno fértil.


Com o grupo, aquilo que antes não pertencia, agora, faz parte de um todo. Colar, recortar, sobrepor, misturar-se com o trabalho do outro promove um a reflexão enérgica acerca da nossa capacidade de percebermo-nos no outro.
Nessa atividade, os alunos, além de interferirem no espaço, evidenciaram como a soma de forças pode se sobrepor à inércia da produção individual. Em poucas horas, o espaço mudou..... Se feito sozinho, esse trabalho levaria dias.