segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Imagens vistas....Imagens lidas

O que está por trás da imagem é muito mais do que podemos ver....
Permite-nos usar outros sentidos para ver, olhar, contemplar, fruir.
Didi-Huberman mostra-nos uma metáfora que dialoga com a possibilidade de uma inter-relação sujeito/objeto que perpassa a mera percepção ou repção da imagem. O mundo-coisa é povoado por nossas coisas e somos, também, coisas desse mundo. Vivemos com as imagens e nelas nos espelhamos. A vitrine, o outdoor, nosso espelho e aquela pessoa que encaramos na rua são coisificações de nossa sede por imagens. Somos o outro no espelho e queremos o outro em nossos devaneios visuais. Brads Pitts ou Angelinas Jolys habitam nosso mundo-coisa e neles vemos mais que eles mesmos. Vemos outros, vemos nós. Somos coisas desse mundo.


As imagens aqui publicadas fazem parte de um ensaio fotográfico que revelam partes de esculturas executadas por alunos da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Expressam a totalidade das partes e instigam o discurso da visualidade/visibilidade daquilo que, muitas vezes, deixamos passar.....Ou sentir...Ou fruir.



A aventura da imagem é a aventura do homem: dotado de criatividade, imaginação, sensibilidade e habilidade, transforma o mundo em coisa e as coisas em mundo. Inventa técnicas, tecnologias, máquinas que roubam a alma das coisas. Cria sentidos para aquilo que é um detalhe e transforma detalhes em uma imensidão de sentidos. O que é uma coisa vista? O que é uma coisa representada?


Não precisamos responder... Precisamos apenas sentir o que circunda uma aparição, um acontecimento imagético. Imagenos quão poético é ver o mundo por meio de um buraco e, ao mesmo tempo ver a imensidão de fractal. Com máquinas, engenhocas e dispositivos ultracomplexos, mudamos os modos de ver, de guardar e de mostrar essas imagens para o mundo.






domingo, 19 de setembro de 2010

Cenografia Virtual

Cenário Virtual

O uso da informática abriu novos caminhos para a evolução cenográfica. Imagens vistas nos monitores de televisão em casa não são mais compartilhadas pelas pessoas que estão no local no momento da gravação, "trata-se agora de um realismo conceptual, construído com modelos que existem na memória do computador e não no mundo físico" (Machado, 1996: 135). Estes efeitos que antes eram parte do cenário foram crescendo até os dias de hoje onde, em alguns programas são quase a totalidade, senão, o cenário por inteiro.

O cenário virtual se apresenta como uma possibilidade viável pois, ao mesmo tempo em que faz a composição dos atores ou apresentadores, como os cenários tradicionais, vem resolver o problema da área física do estúdio que, em algumas emissoras, se apresenta como empecilho para os cenógrafos, além de se mostrar mais prático e rápido no momento da criação, produção, manutenção, transporte, instalação e armazenamento, acrescido a isto, o menor custo com material e mão de obra.

O problema ainda encontrado na cenografia virtual está na artificialidade das texturas da matéria virtual, "ainda não é "suja" o suficiente. O fundo tem muito mais definição que o ator, e ainda tem foco infinito _o que não ocorre nos cenários normais_ com aquela cara de computação gráfica." (Possebon apud Burini, 1996: 234).

Junto as vantagens apresentadas pela cenografia virtual, a televisão vive profundas mudanças com o surgimento da TV de alta definição. A partir de 1989, no Japão, muitas experiências em HDTV têm sido feitas no mundo. A formatação da imagem HDTV no Brasil será de 1080 linhas verticais ativas x 1920 linhas horizontais de resolução. O resultado será uma tela 30% maior no tamanho horizontal que as dos aparelhos atuais, que passará da proporção de 4:3 para 16:9.

"A tela com maior quantidade de linhas permitirá ao telespectador uma visão ótima, a uma distância menor. (...). Pelo aumento da quantidade de linhas, a imagem será muito mais nítida, a uma distância igual ao dobro da diagonal do televisor. Teremos uma sensação bastante realista, uma visão perfeita, sem a interferência das linhas de um televisor atual. Hoje a HDTV é digital e tem uma resolução de aspecto equivalente ao filme de 35mm." (Pace in Lume, 2000: 48-52).

A cenografia terá que adaptar-se a este novo formato e terá como grande desafio o aperfeiçoamento da qualidade. "Na cenografia, um pequeno defeito de junção de um cenário ou uma pintura mal acabada serão drasticamente notados, pois a nitidez da imagem, aliada à profundidade de campo tremendamente aumentada, por certo denunciará estas falhas" (Pace in Lume, 2000: 54-55). Dentro das imposições da HDTV, a cenografia virtual apresenta-se como a melhor opção nesta transformação da televisão, tanto no momento de transição do atual aparelho para a HDTV, onde será necessário uma adaptação as diferentes proporções da tela, como na qualidade de acabamento neste novo sistema. Novas composições estruturais deverão surgir com as possibilidades criadas pelo espaço virtual assim como novos estilos em função da melhora da qualidade de imagem pela HDTV ou pela limitação de texturas da matéria virtual. E a cenografia, dentro deste contexto, como não poderia deixar de ser, continuará em sua natural evolução.

Para finalizar, dentro de um meio de tão forte penetração, como é a televisão, não poderiamos deixar de tratar do principal papel da cenografia, a questão do significado. Para Décio Pignatari, "cenografia não é apenas um signo que denota e conota um ambiente e/ou uma época, ou que informa um espaço, configurando-o: a boa cenografia é a que participa também da ação narrativa, que não é apenas algo externo a ação, decorativamente, mas que se identifica até com o estado psicológico dos personagens ou o ambiente da cena. Como o nome está dizendo, a cenografia é uma escritura da cena, é uma escrita não-verbal, icônica, que deve imbricar-se nos demais elementos dramáticos, trágicos ou cômicos." (Pignatari, 1984: 72). Com isso, "(...) el espacio representado contribuye a definir no sólo la identidade visual del programa, sus contenidos y sus géneros, sino también las modalidades através de las que se comunica com el receptor y, por tanto, el papel que se asigna a este último. A partir de aquí se produce un salto de nível, pues el modelo de representación espacial adoptado por las transmisiones televisivas sirve para orientar los saberes, los valores y las creencias del espectador, es decir, para definir la relación comunicativa." (Casetti e Chio 1999: 278-279).

Deste modo, a cenografia, é um instrumento de realizações lingüísticas e comunicativas, "es decir, construcciones propiamente dichas, que trabajan a partir de material simbólico (signos, figuras y símbolos presentes en el léxico de una comunidad), (...), y producen determinados efectos de sentido (conviven com la "realidad" o la "irrealidad" de cuanto dicen, etc.). En definitiva, no nos enfrentamos com "vehículos" neutros que "llevan" algo, sino com objetos dotados de consistencia e autonomía própias." (Casetti e Chio 1999: 249).

Esta fase de transição, por que passa a cenografia hoje, é provavelmente a última do século e talvez a que apresente maiores mudanças em toda sua história. A união do computador a televisão já é uma realidade. "A televisão vem sofrendo transformações substanciais ao longo de sua história, tanto a nível de suporte tecnológico (hardware) como dos recursos de linguagem (software)" (Machado, 1995: 157). E, a cenografia com certeza irá beneficiar-se destes recursos de linguagem.

Tratando do desenvolvimento acelerado da televisão em seu sistema de transmissão, Nelson Hoineff, acaba por antever o futuro da cenografia neste meio: "O mais poderoso meio de comunicação inventado pelo homem está em rápida transformação. Tecnologias revolucionárias(...)promovem uma alteração tão grande nos meios de produção que já nem se pode dizer com certeza que a televisão da próxima década seja o mesmo veículo que conhecemos hoje" (Hoineff , 1991: 33).

Surgem as primeiras questões neste momento: A transição, da perspectiva por construção corpórea (que utiliza serviços de marcenaria, serralharia, tapeçaria, pintura entre outras formas de trabalhos manuais) para a construção virtual (que conta apenas com os recursos da informática para sua produção final) é uma evolução natural dos elementos comunicacionais que compõem a cenografia ou uma nova forma de comunicação visual? Esta transformação fará com que o cenógrafo, que por natureza é um generalista, incorpore no desenvolvimento de seus projetos a tecnologia oferecida pela informática ou, criará uma nova forma de representação do espaço e, com isso, abrirá para o vídeo-designer ou outro profissional de comunicação visual um novo campo de atuação?

Para responder a essas perguntas iniciais será preciso conhecer a atual situação da cenografia virtual no Brasil; saber como o cenógrafo da televisão assiste a esta transição. Para conhecer a atual situação da cenografia virtual no Brasil, será preciso saber qual é a formação deste cenógrafo virtual, quais os recursos que estão a disposição destes profissionais e em que outras formas de representações hipermidiáticas já foram utilizadas.

Será preciso verificar como os profissionais envolvidos na criação, utilização e confecção de cenários, na atualidade, estão vendo o uso da tecnologia oferecida pelo computador na elaboração e confecção do cenário. E, como os profissionais no passado receberam mudanças como, a técnica da perspectiva no desenho cenográfico, o uso da luz elétrica como elemento cenográfico ou o início da construção corpórea.

Ainda será preciso definir esta nova forma de representação do espaço, considerando como sendo espaço "a capacidade ilimitada de receber corpos" (Barraco, 1976: 13), recorrendo a antigos conceitos, que passaram por reformulações com a evolução da cenografia. Para isso será necessário identificar os marcos de transição para saber como estes conceitos foram afetados por mudanças como, na transição das instalações em espaços abertos para as salas fechadas e depois para a transmissão irradiada, e como estes conceitos podem ser enquadrados na representação virtual.

A história da cenografia indica a necessidade de preparar o cenógrafo atual para esta nova fase de transição; apontar caminhos para aqueles que estão no mercado antes do aparecimento do computador; adaptá-los a esta realidade; apresentar as ferramentas que estão a sua disposição no momento. Ainda há tempo de discutir com os vídeo-designers, que aventuram-se neste mundo, que conceito utilizar na elaboração desta nova forma de representação do espaço e, como utilizar de forma adequada os elementos comunicacionais que se apresentam.

Quando for definido o perfil do profissional que estará preparado para desenvolver projetos cenográficos virtuais; que habilidades e conhecimentos deve ter; como fazer uso das técnicas e materiais; e, em que conceito enquadrar esta nova forma de representação do espaço, então, só ai, teremos o cenógrafo virtual.


Disponível em:

http://www4.pucsp.br/~cimid/2com/cardoso/cap1.htm. Acesso em 15 Set. 2010.